Fotógrafa pioneira, Margaret Bourke-White disse certa vez: “Nesta minha experiência, houve uma maravilha contínua: o timing de precisão que funciona através de tudo… por alguma graça especial do destino me foi depositado — como todos os bons fotógrafos gostam de estar — no lugar certo e na hora certa”.
Ela foi a primeira fotógrafa estrangeira a conseguir permissão para entrar em território soviético e documentar a indústria daquele país. Foi também pioneira no fotojornalismo de guerra e a primeira mulher a trabalhar na Revista Life, fundada por Henry Luce. Esse currículo invejável fez dela uma das mais importantes profissionais da fotografia do século XX.
Sua vida, pouco conhecida, compensa esse fato com registros fotográficos que compõem a história da humanidade. Tudo isso foi conquistado com audácia e intuição apuradas, que resultaram na apreensão do exato instante em que a notícia acontecia.
Depois de dominar o universo da fotografia, ganhou o mundo com suas imagens impressionantes e seu talento único. Por meio das suas lentes, Bourke-White tinha muito a contar e contou, estampando suas fotos na Revista Life e Fortune, marcando um período de 30 anos — 1930 a 1960.
A vida de Margaret Bourke-White
Margaret Bourke-White nasceu em junho de 1904 em Nova York. A casa da família era toda decorada por fotografias — influência de seu pai, o engenheiro Joseph White. Daí, nasceu a paixão de Burke-White pela fotografia com apenas 8 anos de idade.
Na década de 1920, foi aceita na Universidade de Michigan, onde deu um salto na arte de fotografar profissionalmente. Em 1927, terminou seus estudos e no ano seguinte abriu um estúdio de fotografia comercial, com um trabalho mais voltado para imagens de indústria e arquitetura. Ganhou visibilidade nacional ao produzir fotos para a Otis Steel Company — um de seus grandes clientes.
Após dedicar-se durante anos a diversos tipos de publicações, em 1930, ela já tinha seu nome conhecido entre os editores de fotografia e revistas. Nesse período, foi para a Rússia e passou cinco semanas cobrindo a revolução industrial e cultural. Esse trabalho foi publicado no The New York Times juntamente com seis artigos por ela escritos.
Trabalhando como freelancer, ela fotografou ainda a Dust Bowl (tempestade de areia nos Estados Unidos), imagens dos anos da grande depressão dos EUA, além de ter viajado para a Europa a fim de documentar os eventos ocorridos nos países submetidos ao regime nazista e comunista da época.
Em 1936, a revista Life foi lançada e Margaret assinou a fotografia de capa, que ilustrou a matéria sobre o Fort Peck Dam. Foi também a primeira repórter fotográfica da revista Fortune.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Margaret fotografou nas zonas de combate, tornando-se a primeira mulher correspondente de guerra. Documentou ainda outro acontecimento importante da história: a Partição da Índia e o Paquistão na década de 1940.
Nesse momento, entrevistou e produziu a icônica foto de Mahatma Gandhi algumas horas antes de ele ser assassinato. Em 1949, esteve na África do Sul cobrindo o Apartheid. Já no final de sua carreira, fotografou a Guerra da Coréia, em 1952.
Ao longo de suas viagens ao redor do mundo, Bourke-White documentou a vida das mulheres que encontrou, também promovendo atividades inovadoras no campo das conquistas femininas, como Índia e Paquistão.
Também retratou essas mulheres na União Soviética, exercendo atividades pesadas no campo e na indústria. Produziu, igualmente, trabalho fotográfico ilustrando o duro ambiente dos trabalhadores nas minas da África do Sul.
Seu envolvimento com as revistas Life e Fortune
A revista Life surgiu em 1936 no cenário impresso americano como uma publicação diferenciada. Sua linha editorial usava a fotografia como forma de contar histórias, e não apenas como ilustração de textos. As fotos falavam por si e Margaret Bourke-White foi a sua grande expoente, a primeira fotógrafa a integrar a equipe da revista em uma época em que os homens dominavam esse mercado.
Em 15 de fevereiro de 1937, a revista Life exibiu um dos trabalhos mais emblemáticos de Margaret: em frente a um outdoor que ilustrava uma família branca sorridente em viagem de férias, estava uma fila de mulheres e homens negros refugiados das enchentes em Louisville. O texto da legenda dizia: “A inundação deixa suas vítimas na fila do pão”.
A revista Fortune chegou no início da Grande Depressão americana também pelas mãos de Henry Luce. Ele decidiu criar uma revista dedicada aos homens que administraram os negócios na nação, tratando de maneira sofisticada as questões industriais em todas as suas perspectivas.
Para tanto, contratou Margaret Bourke-White. A ideia de Luce era explorar tudo que fosse possível no mundo da indústria e a câmera seria sua intérprete retratando o que significava a civilização industrial moderna. Assim, ela foi a primeira fotógrafa da Fortune com um trabalho vastamente empregado logo na primeira edição.
Durante esse período, Margaret incrementou seu portfólio de fotos na linha industrial com o transporte e a indústria na região dos Grandes Lagos. A publicação recebeu o título: “Rotas comerciais através dos grandes lagos”.
Passados 25 anos das suas primeiras fotos nas páginas da Fortune, Bourke-White voltou aos Grandes Lagos para o último ensaio fotográfico realizado para a revista, no ano de 1955. Seu trabalho, mais uma vez, demonstrou a habilidade de documentar a história com imagens impactantes.
O pioneirismo em território soviético
Logo após Margaret mudar-se para Nova York em 1930, foi enviada para a Europa a fim de registrar o crescimento acelerado da indústria alemã. Na mesma viagem, ela decidiu partir para a União Soviética na companhia do marido, Erskine Caldwell.
Até então, nenhum jornalista estrangeiro havia recebido permissão para pisar em solo soviético com o intuito de documentar os progressos da indústria. Assim, ela também foi a primeira a conquistar tal façanha!
Desde 1928, a União Soviética havia construído mais de 1500 fábricas orientadas por um plano de rápida industrialização e Bourke-White pretendia fazer esse registro em filme.
Quando viajou para a União Soviética, logo que a Alemanha quebrou o pacto de não agressão, Margaret foi a única fotógrafa estrangeira presente em Moscou assim que as forças alemãs invadiram o país. Ela se refugiou na Embaixada Americana e registrou alguns momentos importantes.
Durante o colapso da Alemanha, em 1945, a fotógrafa viajou com o General George S. Patton, chegando a Buchenwald — conhecido campo de concentração. Sobre esse episódio, foi atribuída a ela a seguinte frase: “Usar a câmera era quase um alívio. Ela formava uma tênue barreira entre mim e o horror a minha frente”.
Após a guerra, essa brilhante fotógrafa produziu um livro sobre toda a experiência vivida. O projeto a auxiliou no retorno à vida normal depois de ter testemunhado tanto terror e brutalidade durante e depois da guerra.
Seu amigo e colega de profissão, Eisenstaedt, declarou que “uma das suas maiores qualidades era que não havia trabalho ou fotografia a que ela não desse importância”.
Depois de realizar um trabalho intenso de coberturas especiais pelo mundo todo, Margaret Bourke-White recebeu o diagnóstico de Mal de Parkinson, em 1956. Em 1971, aos 67 anos, morreu em decorrência da doença deixando um legado incalculável de registros fotográficos históricos dos eventos mais assombrosos do século XX.
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